setembro 07, 2011

Amor que eu nunca vi igual.

Hoje eu vi seu carro estacionado na rua. Era o seu. Só poderia ser. Não têm dois carros como aquele na cidade. Ninguém mais deixaria o carro tão sujo como você deixa Mãe, impossível. Era o seu. Eu sei que era. Ele estava estacionado, na sombra, com as rodas viradas para a guia. Ninguém mais na cidade estaciona o carro assim em uma subida. Eu sei que não. Era você. Ou melhor, vocês. Eram vocês e o carro estacionado do lado de fora da casa da Vó. E com certeza, vocês estavam lá. Seria muita coincidência se fossem outras pessoas. Você Mãe, estaria lá, porque é meio que rotina, ou pelo menos era naquela época. E você Irms, porque não tens aula essa semana, e não ficaria sozinha em casa com a Laila. Ah, a Laila! E afinal, ela estava grávida, ou não? Agora eu consigo entender como um cachorro pode ser importante na vida de alguém. Deus, como eu sinto falta. Mas eram vocês.
Pensei em pedir para o Pai contornar o próximo quarteirão, e estacionar atrás do carro. Eu pensei, juro que pensei. Mas, para que? Para colocar a Vó em uma situação que ela não merece, e fazer ela chorar mais uma vez? Pensei, repensei, trepensei. Acho que nunca pensei tanto quanto pensei naquela fração de segundos. Pensei. Pensei e percebi que não seria justo. Não seria justo com ela, e não seria justo com vocês. Não seria justo fazer a Laila levantar da cama dela, e latir até o portão para me ver. Não seria justo também, fazer alguma de vocês três levantarem para ver quem estava na campainha. Não seria justo porque eu iria atrapalhar o riso de vocês. O riso e a conversa, por mais a toa que ela fosse. Não seria justo eu atrapalhar uma tarde de segunda feira, acarretando em uma semana ruim. Não seria justo. Então, apenas fingi que não tinha visto o carro, até o Pai comentar "Olha, o carro da sua mãe, elas devem estar aí." Respondi com um sorriso baixo, comentando em seguida, que não tinha visto.
Hoje, a Jú me perguntou se eu nunca mais tinha visto você Mãe. E acho que ela percebeu quando os meus olhos se encheram de lágrimas. Eu tentei disfarçar. Tentei desviar o olhar, e desviei, olhando para baixo. Engoli o choro, e respondi que nunca mais tinha te visto. Ela então, mudou de assunto, tentando falar sobre uma tal exposição do Oscar que está no Shopping. Será que vocês duas já foram ver? A Mariana eu acho que já deve ter passado por lá, mas não deve ter reparado. E você, eu acho que ainda não viu, né mãe? Afinal, eu acho que você nunca mais foi ao shopping depois que tiraram a barraquinha do Mr. Pretzels de lá. Como você gostava de comer aquilo, né mãe?
Hoje, eu to pensando em vocês duas sem sentir raiva. Sem sentir nojo, sem sentir nada. Hoje eu to pensando em vocês com o coração vazio. Minto. Eu não estou pensando em vocês com o coração tão vazio assim. Eu estou pensando em vocês com um aperto nele, sabe? Com um sentimento de saudade, de falta. Eu estou pensando em vocês com um sentimento de perda. E devem ser esses sentimentos que não me deixam dormir em plena madrugada de segunda feira. E é em noites como essa que eu choro. Choro, choro e choro, ate finalmente, pegar no sono.
Boa noite Mãe, boa noite Irms, boa noite Laila. Fiquem com Deus.

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